terça-feira, maio 09, 2006

O poder do som

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, contara-me a história de um rapaz. Já antigo, muito antigo. Atenção, não quero dizer antiquado.

Esse rapaz tinha um dom. Era filho de pessoas muito especiais e eles achavam que o seu rebento não podia ser igual aos outros. E não era.

As suas capacidades eram ímpares. Todos o achavam o melhor deste mundo e do outro. Adorava sentir-se bem. Os elogios eram retribuídos, com mais demonstrações da magnitude do seu dom. As pessoas agradeciam aos deuses por contactarem com esta dádiva.

A certa altura da sua vida, ele conheceu ela e casaram-se. Uma mulher linda, sem defeitos, mas que tinha o infortúnio de não ser descendente de pessoas especiais. Ela morre.

A sua ausência, fez com que ele deixasse de presentear as pessoas com o seu dom. Mas isso não esvaziou o seu amor e foi procurá-la nos confins do mundo. O caminho foi difícil, recheado de perigos. Mesmo assim, encontrou-a. O seu novo senhor, porém, não permitiu que a levasse.

Foi então que ele, mais uma vez, apelou aos deuses. 'Ajudem-me a mostrar a força do dom que me deram', disse ele, enchendo-se de coragem e determinação.

Assim foi. O novo amo cedeu, autorizando-lhe a levá-la de volta ao seu mundo. O pior, contudo, estava para vir. Na viagem, ele teria de confiar nas palavras proferidas pelo senhor e nunca olhar para ela.

A tentação era enorme e, apesar de ser especial, não resistiu. Olhou. Perdeu-a para sempre e nunca mais deu uso ao seu dom.

"O homem morre a primeira vez quando perde o entusiasmo" - H.B.