terça-feira, junho 06, 2006

DGPV

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, não compreendi todas as razões para a existência de um local como aquele que visitei este fim-de-semana.

Fiquei triste, tal como aconteceu em todas as minhas visitas. Assusta-me ter de lá chegar um dia. Ficar parado à espera que algo aconteça. Um olhar perdido na direcção de um estranho, com a esperança de uma troca vã de palavras.

Sensação falsa de segurança. Vontade de regressar ao passado, recordar momentos de alegria e tristeza. Momentos raros para quebrar a monotonia das horas, dos dias, das semanas infinitas.

Definição I: casa de habitação; família;
Definição II: indivíduo de idade avançada; velho;
Definição III: tortura; tormenta;

Antes ter a escolha de morrer que ficar entregue às habilidades do tempo.

Existiu um ‘rapaz’, dos princípios da economia, que defendia uma teoria curiosa. Não me recorda o nome dele, nem a totalidade do seu conceito. A ideia, mais coisa menos coisa, era esta: Todas as pessoas que atingiam determinada idade, deixando por isso de ser úteis à sociedade, eram simplesmente exterminadas. Representavam uma despesa que o Estado não podia suportar e não eram produtoras de riqueza.

Naturalmente é exagerada. Nos tempos que correm não tem qualquer fundamento, mas pergunto-me, muitas vezes, se será assim tão descabida.

Morte Vs Campo de concentração

Como disse, preferia ter a possibilidade de morrer que aguardar, incapaz, pelo beijo da morte.
Nomes pomposos ‘Centro de Dia’, ‘Casa de Repouso’ etc etc etc. Seria mais justo e honesto dizerem ‘Deposito-Geral de Pessoas Velhas’.

Chocou-me e choca assistir ao que vi. Assusta-me a ideia de imaginar que talvez seja obrigado a fazer o mesmo aos meus pais. Não aceito. Não quero. Não posso. Não consigo.

A todos que têm a graça de estar com os respectivos, imploro-vos, aproveitem enquanto podem. Eu próprio não o faço como poderia. Não sou exemplo. Conheço caso(s) de pessoa(s) que os amam mais do que qualquer outra coisa e não podem estar com eles. Como custa. Como dói. Como fazem falta.

"A miséria de uma criança interessa a uma mãe, a miséria de um rapaz interessa a uma rapariga, a miséria de um velho não interessa a ninguém" - V.H.