terça-feira, março 28, 2006

Viagem

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, apeteceu-me divagar. O sol estava ao seu mais alto nível. É bom recebê-lo. Seja em casa ou na rua. É bom. É quentinho.

À medida que o ia sentindo, lembrei-me de vos contar uma história.

Desculpe senhor,
Este lugar está ocupado?
Escutei-o a dizer
Agitado não, mas batido.
Até que bebia um!

Tamanha sede, nem sempre permite
um bom discernimento.
Então, se me der licença.
A minha especialidade é esta.

Estranhos num comboio.

Oh, o senhor é um encanto
À sua.
Não quero saber como se chama
nem o que faz.
Já sei, mais um aos estranhos num comboio
Estranhos num comboio

Oh, penso que vamos mais depressa
Do monte ao pasto
olhe para aquela paisagem
é fabulosa
é fabulosa

Eu realmente gosto de andar de comboio
Especialmente quando me esqueço para onde vou
Gosto da forma como se faz sentir
O movimento das rodas

Enquanto as faíscas voam enfurecidas
Dos carris feridos, ainda a chorar
Observar a paisagem
é fabuloso, é fabuloso
é fabuloso, é fabuloso

Eu realmente gosto de andar de comboio
Especialmente quando me esqueço para onde vou
Gosto da forma como se faz sentir
O movimento das rodas

Montanha, planície.
Bom, eu… É melhor ir
Esta é a minha estação, você sabe.
Foi um momento muito agradável
Oh, o prazer é meu
Todo o meu.

P.S. - A tradução nunca é fiel ao original.

segunda-feira, março 27, 2006

Humores

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, 'apercebi-me' que estava de mau feitio. Fico fodido quando estou com a rabuja.

Quebrei o meu silêncio, ao fim de uma semana completa, para escrever um post de merda. Mas mais do que isso, apetece-me dizer o que me chateia.

Algumas coisas tiram-me do sério, mas há pessoas que, pela forma de ser, me deixam irritado.

Detesto aquelas pessoas que fazem tudo para agradar as outras, esquecendo-se de agradar a si próprios. Que se escondem nessa 'simpatia' para mostrar aquilo que não são, na esperança vã de um elogio. Conheço alguns exemplos de pessoas assim. Umas curaram-se e abriram-se ao mundo; outras há, porém, que se deixam ficar no casulo. Bem fechadinhas, com medo que algo agite as águas tépidas por onde navegam. A essas digo: ACORDEM. METAM OS DEDOS NA TOMADA.

Depois existem aquelas para quem o conflito é norma. Tudo serve para uma boa/má discussão. Implicam por tudo e por nada. Considero-as estimulantes, mas quando deixa de ser possível conversar, devido à visão redutora que têm das situações, só me apetece perguntar: 'Porquê?'.

Mas há mais. Detesto as pessoas a quem enquadro na categoria de 'pavões'. Respiram fundo, enchem o peito e passeiam-se com os braços a balouçar para a frente e para trás.

Felizemente dormi bem e hoje, enquanto termino o que ontem comecei, estou mais tranquilo.

"Cada um possui na sua natureza alguma coisa que, se a manifestasse em público, suscitaria reprovação" – J.G.

Um post de merda

Conversa no WC.

- Então, tudo bem?!
- Ya, mas cheira-me que houve merda.

segunda-feira, março 20, 2006

Olá Pai. Pai não, amigo.

Olhei agora para as horas e reparei que o teu dia já passou. Não faz mal. As palavras, escritas ou faladas, não têm hora marcada.

Não me esqueci de ti hoje. Afinal estive contigo, abracei-te, beijei-te e ralhei-te por seres tão teimoso. Mostrei-te que não deixei passar a data em branco, apesar de não te ter oferecido nada. Como tu sempre me fizeste ver, a vida está cara. E tu sabes como ela é difícil. Desculpa, mas sei que compreendes.

Olha, há muito que quero dizer-te algumas coisas. A verdade é que não sei como fazê-lo. Não sei qual a melhor altura. Nem sequer sei quais as palavras certas. Daí estar a esconder-me por aqui. Talvez por saber que, provavelmente, estou protegido.

Gostava de ser capaz de olhar-te nos olhos, sem me largar a chorar, e dizer-te o quanto te respeito. Que não sabes, nem sonhas, o quão importante foste e és para mim. Gajo, és grande.

Lembraste quando era mais pequenino e ia, com a mãe, ter contigo ao trabalho? Ou então, quando íamos para a praia, porque tu não pagavas o autocarro e eu nem sequer tinha idade para me cobrarem meio bilhete? Era muita fixe.

Lembrei-me agora de quando ficávamos, na janela da cozinha, da casa antiga, a ver quem passava e tu dizias assim: “Olha as meninas! Assobia lá”. Foi aí que me ensinaste a fazer ‘fiuu fiuuuu’. Ganda maluco.

Isso foi na altura em que eu era muita pequenino. Depois cresci. Crescemos os dois. Sei que tinha a capacidade de te tirar do sério. Desculpa Pai. Portei-me muita mal.

Bom e aquela vez em que eu e o meu amigo demorámos um bom par de horas para chegar a casa, vindos da catequese, que era já ali ao lado, porque nos lembrámos de ir apanhar caracóis. Tu, preocupado, foste logo à nossa procura. Só não me consigo recordar se, na altura, apanhei das boas. Devo ter. Se em outras situações apanhei, por que razão nessa não haveria de ter apanhado. Mas lembro-me de estar no terraço, mais o meu amigo, a tentar descobrir qual era o caracol mais rápido.

Por falar em terraço. E quando íamos os três, eu, tu e a mãe, lavá-lo com a mangueira. Isso é que eu gostava de chapinhar na água. Nesse aspecto, que ninguém diga o contrário. Se gosto tanto de praia e do mar, a responsabilidade só pode ser tua.

Tenho tantas memórias tuas, de quando eu era puto. Nem tens ideia. De coisas boas e coisas boas, apesar de, na altura, serem bem más para mim.

Há um momento, porém, que nunca esquecerei. Recordo-o como se fosse ontem Pai. De certeza que também te lembras: foi a última vez que me bateste. Abençoada chapada aquela que me deste. Foi por causa do carro. O puto queria ir de carrinho para a Universidade e tu achavas que eu não era capaz. Tinha a carta há pouco tempo.

Chegaste do trabalho e eu já estava na cama. Entraste no quarto, para me cumprimentar, e eu mandei-te ir embora para onde tinhas estado. Não te dei os dois beijinhos com que ainda hoje te saúdo. Ainda bem que te passaste e puxaste essa mãozorra atrás.

Passado um bocado fui ter contigo à cozinha, acho que sem chorar, onde tu tinhas começado a comer e não acabaste. ‘Quem é que tu pensas que és? Não preciso de ti para nada. Queres bater, bate agora. Anda, anda lá. Deves pensar que o teu filho ainda tem 6 anos. O teu filho cresceu. Não preciso de ti. Etc, etc, etc e etc’. Como é que fui capaz de te dizer tudo isto. A mãe não estava a perceber nada. ‘Não te quero ver mais à minha frente’. Virei costas e fui enfiar-me no quarto. Tu fizeste o mesmo. Aí sim, chorei. Tu também choraste, porque a mãe contou-me enquanto tentava apaziguar os ânimos.

Fui ter contigo, após muita insistência da mãe. Ou foste tu ao meu. Não importa. Sei que nos agarrámos como nunca antes o tínhamos feito. Foi tão bom Pai. Abençoado dia. Foi desde então que nunca mais nos olhámos como Pai e filho. Claro que és o meu paizão, mas agradeço a Deus por me ter apresentado um Amigo tão grande. Tinha mais coisas para te dizer, mas deixo para outra altura.

Pai, é verdade, tu não és grande. És enorme.


"Na verdade, poucos filhos são semelhantes ao pai; a maioria é inferior, poucos são melhores que ele" - H.

sábado, março 18, 2006

Tão bom

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, lembrei-me de algo que faz as pessoas olharem para mim com ar de desdém. Ficam a pensar: 'Olha, coitado, deve ser tolinho'.

Há uns tempos, era capaz de ser como a maioria de vós e dizer: 'Caramba, tinha de começar logo agora'. Ou então: 'C'abreca, vou molhar-me todo. Esqueci-me daquela porra'.

É chato. É aborrecido. Aquela humidade toda. Uma pessoa vai de carro, quase que não vê nada à frente do nariz. Depois é a porcaria da 'sofage' do carro que não limpa ou seca o embaciado dos vidros. E depois ainda existem os outros condutores que circulam na estrada molhada como se ela estivesse seca.


Houve um certo dia, estava eu a sair do trabalho, furioso com tudo e com todos, para variar, e apercebi-me que não tinha razões para estar chateado. Eu tinha e tenho uma coisa que eles não têm, nem nunca terão. Olho para cima e desfruto o que sinto.

Cada toque dela, cada sopro dele, cada festa no meu rosto faz-me pensar o quanto tudo isso é bom. Quantos anos perdi por não desfrutar daquilo, que Deus nos dá gratuitamente, desta forma.

Muitos falam/sonham em dançar, outros em nudez, outros ainda em fazer amor, mas quase todos se esquecem de senti-la. E muitos mais aqueles que nunca fizeram nada disso.

Nunca estive completamente despido ou tão pouco de tronco nu debaixo dela, mas um dia estarei. De braços abertos para a receber.

"As dádivas feitas com carinho dobram de valor" - T.H.

terça-feira, março 14, 2006

Dissolver

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, apercebi-me que já passaram cinco dias. Estou curioso por saber quantos mais serão precisos para se dar a vingança.

Sou manifestamente contra esse senhor. Não gosto dele. Primeiro é de direita, apesar de reconhecer algumas coisas interessantes nessa ala política. Segundo não me inspira confiança.

Aliás, vou mais longe. Estou a contar os dias até que o homem decida regar exageradamente a rosa, de tal forma que a dissolva. Acho que o senhor não vai fazer um bom trabalho. Mas isto sou eu a dizer por não gostar dele.

Espero estar redondamente enganado e que o vaticínio do Bellini seja apenas mais uma brincadeira da Imprensa côr-de-rosa.

"Aquele que não é capaz de se governar a si mesmo não será capaz de governar os outros" - M.G.

domingo, março 12, 2006

Exposição

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, não consegui ficar indiferente a uma exposição patente em Castelo Branco.

Não tive e penso não ter oportunidade para a visitar. Felizmente não preciso de me deslocar até lá para tomar conhecimento do assunto da mesma, afinal basta ler/ver.

Uns têm a a primeira emenda ou como dizem: a 'first amendment'. Outros há que têm o 25 de Abril. Por outro lado, na China fecham-se blogues por serem incómodos ao regime.

Compreendo que, no segundo caso, ainda demore algum tempo a atingir a sua plenitude. Afinal, tem pouco mais de 30 anos. A cultura do 'Lápis Azul' ainda está muito enraizada.

Não preciso de dizer que fico triste com todo e qualquer acto de censura. Mas, mesmo assim: “Estou triste”.

Aquele com quem esperava trocar algumas palavras, ideias, opiniões, iguais ou diferentes, optou por fazer uma cruz, de cor azul.

Não percebi, nem percebo. Sempre ouvi dizer: ‘Junta-te aos bons e serás como eles’.
Era precisamente isso que eu queria fazer. Obviamente não quero ser como ele, mas queria juntar-me. Como disse e repito: Gosto do que leio e continuarei a ler.

Nunca foi minha intenção criar conflitos com alguém. Não considero que a troca de ideias seja um conflito. Acredito que só evoluímos se trocarmos experiências uns com os outros. Quem se fecha em si próprio estagna. Eu pretendia evoluir.

Desconfio que uma das razões para a utilização do lápis azul tenha sido uma questão de identificação. Mas que raio, a liberdade permite-me estas coisas. Não quero ser identificado. A evocação de Janus continua a parecer-me apropriada para a designação deste blogue. Não me chamo Janus, naturalmente, mas utilizo-o como um veículo para expressar o que me vai na alma. Sempre achei perigoso dar-me, realmente, a conhecer. Com nome e tudo. Não acrescentaria nada às pessoas que me lêem. Mas se isso significa ser cobarde, então sou cobarde.

Lembro-me, quando era miúdo, de me deitar e rezar uma pequena oração: blá blá blá e tenho muita pena de vos ter ofendido. Ajudai-me a não tornar a pecar.

“O mais sólido e mais duradouro traço de união entre os seres é a barreira” – P.R.

sábado, março 11, 2006

De barriga cheia

Um dos pratos que mais me tem saciado é esta banda sonora.



É um velho conhecido meu, há muito tempo esquecido e há pouco recuperado. Para ser escutado até ao último pormenor. Do som mais forte e intenso ao mais leve sussurrar de cada instrumento.

As músicas de um filme intenso, provocador, mas, ao mesmo tempo, de uma sensibilidade e delicadeza grandiosa.

"A música é o barulho que pensa". - F.N.

O cheiro a bosta

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, deparo-me com o seguinte título de uma notícia: 'Familiar de Nazi Será Judeu'.

Mathias Goering, descendente de Hermann Goering, um dos braços direitos (sim ele teve uns quantos) de Adolf Hitler, vai converter-se ao judaísmo. Aos 49 anos, depois de passar a vida "atormentado pelo nome de família", Mathias decidiu romper com o passado familiar e aderir a todos os rituais que distinguem a religião judaica.

Dá que pensar. A mim deu. Quanto não vale o peso da história, seja ela bem ou mal contada. Por reconhecer argumentos válidos em ambas as correntes, revisionistas ou não, recuso-me ser um pato que se prepara para ser transformado em 'fois gras'. Questiono-me se terá sido realmente assim. Não defendo, mas também não critico. Recolho informação, absorvo-a e analiso-a. Dos bons e dos maus. Sejam eles quem forem.

O que leva alguém recusar a herança genética, para mergulhar numa penitência tão ou mais ditatorial do que aquela a que Goering ajudou a implementar? Quais as responsabilidades de Mathias pelos actos de Hermann? Houve pressões para esta decisão? Que credibilidade tem?


"A bosta de boi é mais útil que os dogmas; serve para fazer estrume". - M.T.T.

sexta-feira, março 10, 2006

Curiosidade

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, li uma ou duas coisas que despertaram a minha curiosidade.

"Russos com genes para resistir ao álcool"
- Foi uma investigadora, do Instituto de Genética de Moscovo, que concluiu.
Portugueses, ainda há esperança. Mais umas gerações e seremos nós o objecto de notícia. "Portugueses têm sangue no álcool".

"Um estudo concluiu que o monstro do Lago Ness poderá ter sido um elefante"
- Pois. Já estou a ver. Daqui a uns anos, um estudo vai concluir que o Cavaco até foi um bom Presidente da República.

"Liceu expulsa aluna por sair na Playboy"
- Claro. Depois dizem que os índices de abandono escolar são elevados. Que motivação existe para os restantes alunos?

"A curiosidade faz-se acompanhar sempre pela maledicência". - P.

quinta-feira, março 09, 2006

Alguém, outro alguém e os outros

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, li um livro interessante. Sim, porque também os há.

O retrato de alguém, que teve o privilégio de contactar com outro alguém. A história tal e qual como ela foi, de acordo com o olhar de quem viveu, sentiu ou ouviu. Sempre na primeira pessoa.

A admiração de alguém por um outro alguém que de bonito tinha a paixão pela música e a forma, cega, como acreditava nas suas convicções.

Recordo-me que, quando o livro foi editado, todos opinavam sobre o assunto. O alguém, o outro alguém, o contexto de ambos e dos outros. Mas e se, em vez de alguém e do outro alguém, fosses tu e eu. Em vez dos outros fossemos nós. Seria diferente?

"A ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela". - N. M.

sim ou não

No outro dia, enquanto dava de beber aos olhos e à mente, deparei-me com as palavras de alguém. Parei e pensei: "Mas que bela ideia. Vou fazer o mesmo e vou meter-me com esse estranho ser".

Gosto de escrever, mas faço-o por obrigação. No entanto, bem lá nas profundezes do meu ser, reconheço tratar-se de uma tarefa que me apraz bastante. Certo?! Ou será que está errado?

Inicio este blog com a intenção de mostrar/ocultar-vos certas coisas e, também, para, como disse, meter-me com esse estranho ser.

É uma razão como qualquer outra. Sim/Não. Vamos ver.

"Não importa o quanto és bom no que fazes. Acredita que, em qualquer parte do mundo, há sempre alguém melhor do que tu", Homer Simpson